Por uma vez, escrever ‘destino’, ‘alma’ e ‘verdade’ sem medo de exageros ou lugares-comuns quando se fala de fado. Trata-se de um privilégio raro, porque raros são os predestinados a cantar um género musical que não deixa mentir. E o fado não deixa mentir: não interessa a voz, a figura, o estilo – ou sentimos verdade ou não sentimos. E com Cuca Roseta, sentimos.
O seu disco de estreia, em nome próprio, resume a história de alguém que sempre acreditou numa vontade maior do que ela – e soube esperar. Mesmo já tendo participado numa banda marcante para a música moderna portuguesa, Cuca Roseta sempre soube que era no fado que se iria encontrar. Apenas esperava o momento certo, os cúmplices perfeitos.
Aconteceu. De um encontro fortuito (alguns dirão predestinado) com o músico, compositor e produtor argentino Gustavo Santaolalla – que já conta na bagagem com dois Óscares para Melhor Banda Sonora (Babel e Brokeback Mountain) nasceu este «caso de amor musical», nas palavras da própria fadista.
O resultado é uma coleção de temas que, dos mais clássicos como “Rua do Capelão” ou “Marcha de Santo António”, até aos musicados como “Porque Voltas De Que Lei” (letra de Amália Rodrigues, colaboração do tanguero Cristobal Repetto e do próprio Gustavo Santaolalla) ou “Maré Viva” (poema de Rosa Lobato Faria vertido para castelhano), este é um testemunho verdadeiro de uma vocação.
Como cúmplices musicais perfeitos, Mário Pacheco na guitarra portuguesa, Pedro Pinhal na viola de fado e Rodrigo Serrão no contrabaixo. E ao comando de tudo, a extraordinária sensibilidade de Gustavo Santaolalla, a dar espaço, tempo e voz para que Cuca cumpra o que sente e enfim o possa mostrar ao mundo, porque a alma é universal.